sexta-feira, 19 de junho de 2009

Política Educacional: PCN de geografia – mito e realidade

Não podemos negar que os PCN´s (Parâmetros Curriculares Nacionais), não apenas de geografia, mas também de outras disciplinas ainda se apresentam como um poderoso instrumento legitimador de materiais didáticos.
Ao aprofundarmos a análise no PCN de Geografia, fica claro que o mesmo não dá possibilidades de ser um material de referência para orientação pedagógica. Há fragilidades nos conceitos e na proposta de organização do trabalho que inviabiliza a utilização do mesmo como referência para um trabalho pedagógico.
Entrando em seus meandros, alguns pontos são dignos de serem avaliados com cautela. Vamos começar pela primeira parte, denominada “Caracterização da área de geografia” Podemos dizer que a trajetória do texto realça momentos determinantes da história do pensamento geográfico sem aprofundamento nenhum.
Da institucionalização da geografia no Brasil até o marxismo é notável a superficialidade que autores como La Blache ou Delgado de Carvalho são abordados.
Já o marxismo é tratado como uma teoria que trouxe suas contribuições e confusões, como podemos verificar no trecho:
“Essa nova perspectiva considerava que não bastava explicar o mundo, era preciso transformá-lo. Assim, a geografia ganhou conteúdos políticos que passaram a ser significativos na formação do cidadão. As transformações teóricas e metodológicas dessa geografia tiveram grande influência na produção científica das últimas décadas(...)Essas propostas, no entanto, foram centradas basicamente em questões referentes a explicações econômicas e a relações de trabalho que se mostravam, pelo discurso que usavam, inadequados para os alunos distante de tal complexidade nessa etapa da escolaridade” (ver p. 22)
Para resolver essa problemática envolvendo por um lado o positivismo da geografia tradicional e do outro a chamada geografia crítica, a sugestão por parte documento é que
“Partindo-se do pressuposto de que a realidade do mundo é muito mais ampla do que a possibilidade teórica de qualquer área do conhecimento para dar conta de sua explicação e compreensão isoladamente, e de que isso não pode ser feito de forma fragmentada, a prática didática e pedagógica da interdisciplinaridade torna-se um recurso para impedir o ensino fragmentado do mundo” (ver p. 37)
A interdisciplinaridade passa a ser a saída que o PCN propõe para solucionar um problema de ensino-aprendizagem para aqueles professores que foram identificados com uma formação deficitária!
Parece lógico afirmar que um professor que não domina ou não possui bases da ciência que ensina não teria condições de desenvolver um trabalho interdisciplinar na medida em que consideramos:
“toda ou qualquer atividade que, fundada em um objetivo comum, eleja um tema que deva ser analisado por mais de uma disciplina (...) O objetivo do trabalho interdisciplinar não é o de confundir os discursos disciplinares, mas o de permitir ao educando perceber que um mesmo tema pode e deve ser tratado por diversas disciplinas, as quais vão realçar aspectos e construir estruturas analíticas diferenciadas em torno de uma mesma realidade” (SANTOS, 2008 – ver página 3).
Ao desenvolver um trabalho interdisciplinar pressupõe-se que todos os envolvidos tenham clareza de suas identidades no campo da ciência. Esse método de trabalho envolve abordagens de diferentes estatutos epistemológicos sobre um fenômeno ou determinados objetivos. Constatamos aqui uma incompatibilidade entre o que motivou a elaboração do PCN e as reais possibilidades de suas sugestões se transformarem em planos de ensino e/ou aulas.
Leandro Duarte Monteiro Bagues
Bacharel em geografia e Licenciatura PUC/SP
Professor do Colégio Friburgo
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia do Ensino Fundamental II. MEC. 1998. CARVALHO, Rita de Cássia Gonçalves. As transformações do ensino no Brasil: análise das reformas. 2000
KAERCHER, Nestor André. Terra livre número 13 – PCN´S: FUTEBOLISTAS E PADRES SE ENCONTRAM NUM BRASIL QUE NÃO CONHECEMOS. 1997
SANTOS, Douglas. Em torno das diretrizes curriculares: uma proposição de geografia. Alfageo. Revista do Departamento de Geografia - PUC SP. 1999.
O significado de escola. Constr. psicopedag., Dez 2008, vol.16, no.13, p.22-61. ISSN 1415-6954. http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=1415-695420080001&lng=pt&nrm=iso.

3 comentários:

  1. Leandro
    Complicado de tecer somente um “comentário” sobre o seu artigo, visto que as questões que você aborda são de um complexidade imensa… Os temas: PCNs, formação acadêmica e interdisciplinaridade, cada um individualmente, daria horas e horas de conversa e debate… Considerando os 3 juntos… é material para uma tese!
    Apenas no sentido de ampliar essa reflexão – pelo que eu entendi objetivo desse blog – valem algumas considerações…
    Entendo que em um país que tem formado profissionais despreparados para o exercício da docência, os PCNs caem como uma luva no sentido de não se constituir um parâmetro, uma referência, mas sim um manual. Passa a ser o documento que vai dar respostas a todas as perguntas passando a reger a prática de muitos profissionais, não só da área de Geografia! Você escreve: … “poderoso instrumento legitimador de materiais didáticos”. Isso é sério! E, se o documento apresenta fragilidade e inconsistências, como você também afirma, mais sério ainda!
    A discussão é anterior, concorda? Como o professor forma a SUA concepção sobre a ciência que ensina? Como estabelece um posicionamento crítico frente à função da escola e a função da geografia na escola? (Não é a toa que vocês formaram um GRUPO DE ESTUDOS que tem por objetivo discutir essa relação… )
    A outra questão se refere à interdisciplinaridade, poderoso conceito que se afirma ser a arma contra a fragmentação tão criticada. De fato, acredito que seja… mas também acredito que estamos a anos luz dessa prática ser sistematizada nas escolas. Primeiro porque a escola, de uma maneira geral, não está organizada para ser interdisciplinar. Horários estanques, as disciplinas e seus conteúdos específicos, os tempos para planejamento, a disponibilidade dos professores de sair da sua zona de conforto… Sem mencionar o quanto é difícil, mesmo para os mais experientes, ter uma visão e uma atitude interdisciplinar… O que vemos, normalmente, são ações multidisciplinares.… sem o estabelecimento das relações necessárias para “construir estruturas analíticas diferenciadas em torno de uma mesma realidade”, como você também pontua em seu texto.
    Necessário pensar e repensar a escola sempre!!!!!
    Enfim, para um comentário, já escrevi demais!
    Termino parabenizando o grupo pela corajosa iniciativa. Acredito que a missão à qual vocês se propõem não é para todos, nem para muitos, apenas para os homens de fé!
    Desejo à vocês excelentes conflitos, embates e debates! Vamos conversando!
    Um abraço!
    Cintia Siqueira
    Coordenadora do Ensino Fundamental II do Colégio Friburgo

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  2. Cintia..

    Seu comentário é um texto! Òtimo isso, a idéia do artigo era passar por diversos temas mesmo, sem dúvida cada um deles pode e deve ser mais explorado.

    O objetivo era colocar um novo ponto de vista em torno do PCN que é muito citado em debates pedagógicos.

    Acho que está sendo alcançado, pelo menos uma reflexão.

    Seja bem vinda ao blog!

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  3. e ruim nao tem nada que eu quero!!!!!!!!!!!!!!!

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